João Cabral documenta as ruas do Porto com uma visão cinematográfica que faz lembrar filmes de Béla Tarr.
Uma extensa obra de imagens intemporais que se dissolvem com a intensa melancolia do nevoeiro que paira no Porto.
Depois de Concluir a licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, mergulha na fotografia com o olhar periférico ampliado e ingressa no Instituto Português de Fotografia. Hoje em dia não sabemos muito bem se tira fotografias ou faz pinturas.
(Entrevista a João Cabral após as fotografias)
Agenda Cultural Porto: Lembra-se quando e como foi o seu primeiro contacto com a fotografia?
João Cabral: Para dizer a verdade, sempre tive contacto com a fotografia, mas nunca me interessei realmente por ela antes de entrar na Faculdade de Belas Artes, onde estudava Artes Plásticas, mais especificamente, Pintura e tive de aperfeiçoar algumas competências na área da Fotografia para depois poder, a partir de boas imagens, criar pinturas. O meu primeiro contacto com a fotografia mais sério, no que diz respeito a revelação e impressão, e também a captação de imagens, surgiu no meu último ano de Belas Artes,
particularmente numa disciplina, Práticas da Fotografia.
ACP: Com que área da fotografia se sente mais a vontade e as razões dessa preferência?
JC: Neste momento a área da fotografia que me sinto mais confortável é, sem dúvida, a
fotografia de rua. Por algumas razões, na realidade. A primeira razão deve-se ao facto
de que acontece sempre muita coisa na rua, no que diz respeito ao aspecto visual, as
ruas são algo rico, em termos de arquiectura, pessoas, acontecimentos, luz, formas,
tudo o que interessa na fotografia pode ser encontrado para mim, na rua, e na cidade. A
segunda razão prende-se com o facto de que, é uma fotografia muito prática e rápida,
basta sair de casa para criar algo, o que facilita bastante um processo criativo mais
intuitivo e imediato. E, além disso, o que me tem interessado ultimamente é mais a
fotografia de rua em outras cidades fora daquela onde vivo, o que a torna ainda mais
desafiante e libertador.
ACP: Quais são os fotógrafos que o influenciaram? Tem referências?
JC: Tenho algumas referências sim, os meus fotógrafos de referência são especialmente
fotógrafos franceses dos anos gloriosos da fotografia de rua em Franca, Cartier-Bresson,
Ronis, Doisneau, Izis, Atget (um pouco antes), Sabine Weiss, entre outros. Gosto da sua
visão muito narrativa e romântica acerca da cidade.
ACP: Quais são as influências da cidade do porto na sua fotografia?
JC: No que diz respeito às referências na cidade do Porto, posso nomear três. Em primeiro
lugar, posso afirmar que é uma cidade bastante rica em termos arquictetónicos, por um
lado bastante monumental e por outro lado encontramos uma arquitetura mais
doméstica, aliada a uma luz muito específica da cidade, sendo sempre bons motivos
para fotografar. Em segundo lugar posso nomear como uma grande influência as memórias que tenho da cidade seguindo muitas vezes a locais onde acabo a fotografar.
Por fim, uma terceira influência posso considerar o clima do Porto, especialmente o
nevoeiro (que antes era mais comum e agora menos), a humidade e a chuva de uma
cidade perto do Atlântico. Pessoalmente, acho que qualquer fotógrafo ficaria facilmente agarrado.
ACP: Tem alguma fotografia do Porto preferida e qual o motivo?
JC: É difícil escolher uma fotografia preferida, se tivesse de escolher, escolhia uma rua, ou algumas ruas. A Rua 31 de Janeiro é sem dúvida uma rua que nunca me canso de fotografar, por duas razões específicas, a primeira, talvez, devido ao grande movimento
de pessoas na hora de ponta que vindas da parte alta da cidade para o centro, a
segunda razão, o comprimento da rua, isto porque, sendo uma rua comprida, permite,
através da atmosfera e da luz e da distância focal, criar perspectivas e ângulos quase
sempre diferentes.
Para mais info: https://www.joaocabralphotography.com/
Por Miguel Aguiar Publicado Segunda-feira 15 fevereiro 2021, 19:01