
Do Acontecimento – José Bragança de Miranda
Do Acontecimento – José Bragança de Miranda
Numa época do cálculo, da regra e da prevenção surge, repentinamente, o inesperado, algo que interrompe o curso das coisas e ameaça o discorrer da vida. Numa espécie de paradoxo, quanto mais se antecipa o acidente mais este, ao surgir, se apresenta como catastrófico e intratável. Entende-se que, neste contexto, a ideia de Acontecimento, contingente e imprevisível, se tenha vindo a impor para dar conta de forças que excedem as formas históricas, venham elas da natureza, como uma catástrofe, ou do interior da história que fazemos, disseminadas como um incêndio ou uma epidemia. Existe um certo pânico perante esse excesso de força e a debilidade das formas, ainda que boa parte da cultura humana se tenha baseado na espera por um acontecimento decisivo, uma revolução, através da qual a paz ou a justiça possam vencer definitivamente. Disso, uns são testemunhas, outros anunciam, outros, cansados de esperar, perdem toda a esperança. Mas é apenas pela arte, pelo pensamento e pela técnica que se responde ao Acontecimento e se cria o labirinto onde, como com o antigo Minotauro, podemos estar próximos dele e da sua potência, sem a ilusão de o anular ou controlar.
José A. Bragança de Miranda é doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa (1990), com agregação em Teoria da Cultura (2000) na mesma universidade. É professor associado do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, colaborando desde 1992 como professor catedrático convidado na Universidade Lusófona de Lisboa. Tem lecionado nas áreas da Teoria da cultura e das artes contemporâneas, da teoria dos Media e da cibercultura. É investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens (CECL). É autor de vários livros, entre os quais: Analítica da Actualidade, Teoria da Cultura, Corpo e Imagem e Política e Modernidade, entre outros.