Espaços, lugares e territorialidades #8 – Ciclo de conferências
Nos últimos anos ganhou preponderância o chamado “spatial turn”, a viragem para o espaço. Uma viragem implica uma mudança de direção, mas também a revelação de algo essencial. A maneira como o espaço se inscreve sobre a Terra, de onde emana A Terra, é rugosa enquanto que o espaço geométrico é liso. A viragem deve-se a um pressentimento do especial dramatismo da relação com a Terra. Dizia Beckett: “Estamos sobre a Terra e isso não tem remédio”. A afinidade da carne com a matéria acarreta a finitude humana, que nenhuma religião conseguiu cancelar, e cujo destino é o mesmo que o da própria Terra. Mas é o seu aparecimento que é problemático. A invenção da geometria, os mapas, as fronteiras, a rede de satélites e o GPS foram o efeito de um processo inconsciente e potente sobre a Terra, procurando dominá-la, pô-la à distância.
Todo o desafio está em ampliar o horizonte da habitabilidade em comum da Terra, no suspender as guerras territoriais, de pensar novas dobras do espaço, como os sonhados nas utopias (Bloch), nas heterotopias (Foucault), nas paisagens. No século passado, a land-art, ou a instalação, abriram esse caminho. Talvez apenas a arte possa, sem violência, abrir uma outra relação com a Terra, mais bela e mais justa. Explorar esta possibilidade passa por uma pluralidade de pensamentos em concerto, vindos das práticas artísticas, da filosofia, da geografia, da política ou da antropologia. Um concerto pela terra a ter lugar no Rivoli. — José Bragança de Miranda, Isabel Babo, Manuel Bogalheiro
Espaços, lugares e territorialidades #8 – Ciclo de conferências