
Doc Rossi, guitarra e cistre | As cordas do mundo
Doc Rossi é um guitarrista e tocador de cistre que, sendo de origem americana, vive em Portugal já há alguns anos. O menos que se pode dizer é que Doc Rossi é um segredo bem guardado, uma vez que é surpreendente que este músico e estudioso das músicas tradicionais e da música antiga (e das suas interseções) não seja mais bem conhecido entre nós. E, contudo, já gravou cinco discos a solo (prepara agora o seu sexto), ainda mais integrado em grupos, e publicou uma dezena de métodos para cistre, bandolim e guitarra.
A música de Doc Rossi é tão diversa quanto as referências que cita. Mas o melhor é ouvir as suas palavras:
Apesar da minha base musical estar firmemente na América e na Europa, as minhas viagens, interesses e pesquisas levaram-me a apreciar muitos tipos de música tradicional. Descobri uma afinidade com a música tradicional irlandesa quando, em primeiro lugar, me apaixonei pela música de dança medieval, renascentista e barroca europeia. A minha paixão pelo cistre levou-me ao fado e à tradição profunda da guitarra portuguesa. Toco cistres históricos e modernos e gravei, até agora, dois álbuns de música para cistre do século XVIII, denominado normalmente como “guitarra inglesa”. Dos meus álbuns mais recentes, Góntia recria música de dança francesa do século XVIII através de arranjos influenciados pela música irlandesa contemporânea; já Parlors, Porches & Islands é uma perspetiva histórica da música de guitarra fingerstyle, desde a música popular americana dos finais do séc. XIX e inícios do XX destinada a interpretações domésticas a adaptações de música rural de todo o mundo.
Efetivamente, Parlors Porches & Islands espelha esta encantadora diversidade, e as ilhas de Doc Rossi tanto podem ser as Ilhas Britânicas como o Havai. Sob este ponto de vista, Doc deixa o seu cunho numa tradição guitarrística que sempre se quis eclética e sintética, e da qual um dos maiores expoentes europeus foi o – infelizmente já falecido – inglês John Renbourn, de quem Doc Rossi foi discípulo e amigo.
Resta falar sobre a sua mestria do cistre. De forma genérica, os cistres são um tipo de instrumento de cordas duplas de metal, com tampos e costas planas. Têm antecessores medievais, mas foram fundamentalmente usados a partir do Renascimento e adotados popularmente, como no caso da guitarra portuguesa, que faz parte do grupo dos cistres.
No álbum Góntia – baseado numa recolha de danças feita pelo francês Robert Daubat no séc. XVIII, misturando música tradicional com música barroca – encontramos um dos exemplos do domínio do cistre de que Doc Rossi é capaz, mas, para além disso, encontramos uma música alegre, simultaneamente delicada e excitante, que não esconde as suas raízes na música francesa, mas que, na interpretação de Doc Rossi, ganha afinidades com a música das Ilhas Britânicas, particularmente com a tradição irlandesa.
Encerrando, anuncie-se que Doc Rossi nos oferecerá no seu concerto na Noites no Pátio do Museu, que promete ser memorável, tudo aquilo de que se falou acima: na guitarra, ouviremos música do Havai, da América, da Inglaterra, da Irlanda, para além das suas composições, frequentemente dedicadas a grandes músicos americanos; no cistre, viajaremos pela Córsega, Itália, Irlanda e França. Verdadeiramente, um músico a conhecer, um concerto a não perder.
Dia 13 de julho, às 21h30. Concerto integrado nas Noites no Pátio do Museu.
A entrada é livre até ao limite da lotação.
Nota : a realização desta sessão ao ar livre está dependente das condições meteorológicas. Caso estas não sejam favoráveis, o evento poderá realizar-se no interior do edifício ou ser cancelado.
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