
A história da aranha Leopoldina
A fábula A História da Aranha Leopoldina (2000), de Ana Luísa Amaral, construída sob a forma de uma narrativa versificada, questiona os “papéis” socialmente pré-determinados e pré-estabelecidos, pondo em acção uma personagem-heroína que contraria as regras sociais e familiares e assume a sua diferença. A intriga resolve-se de forma positiva pela aceitação da diferença da protagonista, que acaba por ser valorizada e exaltada. A estranheza da heroína define a sua singularidade enquanto personagem que foge a comportamentos tipificados e próprios da sua espécie. Assim, para além da recusa em fazer teia e da substituição desta actividade pela de fazer meia, ocorre, ainda, uma alteração ao nível dos hábitos alimentares característicos das aranhas. A opção de ser vegetariana também a distingue das outras da mesma espécie, causando a incompreensão da mãe, da família e das amigas em relação ao seu comportamento. A conclusão do trabalho “escondido”, que encerra a narrativa, altera profundamente a imagem da aranha Leopoldina junto do grupo a que pertence, deixando de ser alvo de críticas e passando a receber elogios.
Este texto fala-nos da inclusão mas também da resistência. Uma metáfora que nos convida à reflexão acerca da liberdade de escolha, do respeito pela diferença, da capacidade de resistirmos à opressão e à norma e participarmos como indivíduos na comunidade e fazermos, cada um de nós, a diferença e com esta nossa diferença, enriquecermos o coletivo.
Na primeira encenação deste texto que a ASSéDIO levou à cena em 2009, João Cardoso escreveu: Parece-nos que o trabalho, a poesia e a ternura se uniram neste momento que queremos partilhar convosco. Continuamos a sentir o mesmo, agora com uma nova geração de criadores: a poesia e a ternura respiram nas palavras de Ana Luísa, nas melodias de Clara Guimel, no modo como estes jovens artistas abraçaram o projeto.
A história da aranha Leopoldina