Nos anos 50, o Porto não era apenas conhecido pelo seu vinho e pelas suas pontes. A cidade ganhou destaque internacional ao se tornar a capital do desporto automóvel em Portugal, graças ao emblemático Circuito da Boavista. Com um traçado que serpenteava pelas ruas da cidade, este circuito proporcionava um espetáculo único, misturando velocidade e perícia com o charme das corridas daquela época.
O Circuito da Boavista foi recuperado em 1950 e rapidamente se tornou num marco histórico. Foi um dos poucos circuitos urbanos na Europa a receber corridas de Fórmula 1.
Em 24 de agosto de 1958, o Porto acolheu pela primeira vez o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1. Este evento histórico foi a nona etapa da temporada e trouxe à cidade pilotos de renome mundial, prontos para desafiar as ruas estreitas e curvas apertadas do Circuito da Boavista.
O britânico Stirling Moss, ao volante de um Vanwall, foi o grande vencedor da corrida. Com um tempo de 2:34.21, Moss não só conquistou a pole position, mas também garantiu a vitória.
O Grande Prémio de 1958 não foi apenas uma corrida; foi uma batalha épica entre Stirling Moss e Mike Hawthorn. Numa luta acirrada pela vitória, Moss demonstrou não só habilidade, mas também um espírito desportivo admirável. Durante a corrida, Hawthorn enfrentou uma possível desclassificação após um incidente, mas foi Moss quem interveio, garantindo que o rival mantivesse os seus pontos.
Este gesto de fair-play ficou na história e mostrou ao mundo que o automobilismo era mais do que competição; era sobre honra e respeito entre pilotos.
Após uma pausa em 1959, em que a corrida se transferiu para o circuito de Monsanto, em Lisboa, o Grande Prémio voltou ao Porto em 1960. Esta edição consolidou ainda mais o papel do Circuito da Boavista na história do automobilismo nacional e internacional.
No dia 14 de agosto de 1960, o circuito urbano estava novamente repleto de entusiastas, ansiosos por ver pilotos lendários como Jack Brabham, Bruce McLaren e Jim Clark em ação. A corrida de 1960 foi um verdadeiro espetáculo de velocidade e técnica, com Jack Brabham a subir ao pódio como vencedor.
O traçado do Circuito da Boavista era desafiador. Com 7.400 km de extensão, os pilotos tinham de completar 55 voltas, totalizando 407.000 km de pura adrenalina. As ruas do Porto transformavam-se num palco de alta velocidade, onde cada curva era um teste à destreza dos pilotos.
Este circuito urbano não só elevou o estatuto do Porto no mundo do automobilismo, mas também trouxe um novo fervor à cidade, com hotéis lotados e multidões a encherem as ruas para assistir ao espetáculo.
Embora as corridas de Fórmula 1 no Circuito da Boavista tenham terminado, o legado deste traçado icónico permanece. O Porto continua a ser uma cidade apaixonada pelo desporto automóvel, e o Circuito da Boavista é lembrado como um símbolo de uma época em que a cidade esteve no centro das atenções do mundo do automobilismo.
A história e as memórias das corridas continuam a inspirar eventos e iniciativas culturais na cidade, mantendo viva a paixão pela velocidade e pela competição.
Em 2005, 45 anos após as últimas glórias vividas no Circuito da Boavista, o cheiro e o barulho dos motores voltaram finalmente ao Circuito da Boavista, com a realização do Grande Prémio Histórico do Porto de 2005. A Câmara Municipal do Porto teve um papel fundamental para o regresso deste circuito, cuja estrutura física se manteve na zona da Boavista e Circunvalação, onde foram construídas novas infraestruturas para o efeito.
Em 2007, o circuito foi melhorado, com algumas obras de beneficiação que visaram aumentar a segurança e a competitividade. Essas melhorias abriram caminho para a realização de mais e melhores provas, como o Campeonato do Mundo de Carros de Turismo (WTCC), que aconteceu em 2009, 2011 e 2013, sempre contando para o WTCC.
Em 2015, devido à retirada de apoios do Turismo de Portugal, a autarquia portuense não conseguiu realizar a prova, e a corrida portuguesa do WTCC foi transferida para o Circuito Internacional de Vila Real.