O guia de eventos mais completo e atualizado do Porto

Pedro Suárez: O Primeiro “Fabulista Científico” Português?

Esta história começa algures na década de 1990, quando a Internet estava no início da sua democratização e a tecnologia digital de hoje era ainda apenas um capricho da ficção científica. Mas as televisões, mais robustas do que as de agora, eram já um paradigma doméstico e, com menos de um ano de idade, Pedro Pinho e Suárez, sentado na sua cadeirinha de bebé, assistia com deslumbramento e atenção pregada aos documentários de David Attenborough e Félix Rodríguez de la Fuente; se mudassem de canal para os desenhos animados, ou para outro conteúdo televisivo qualquer, inquietava-se e chorava!

Pedro Suárez: O Primeiro “Fabulista Científico” Português?
Pedro Suárez

Pedro Suárez aprendeu, incentivado pela mãe e pelos avós, a ler e a desenvolver hábitos de leitura e um gosto precoce pelos livros. Enquanto muitos dos seus amigos e colegas jogavam à bola e, juntos, se entretinham com as consolas de videojogos, o jovem Pedro — que desde então se via como a premonição de um futuro grande naturalista — preferia isolar-se para abrir e folhear as numerosas enciclopédias de animais, plantas, rochas e minerais, contemplar as flores dos jardins, subir às árvores, apanhar insectos, passear pelos bosques, visitar e conviver com as aves de capoeira nos campos, capturar lagartos, serpentes, sapos, ouriços-cacheiros e muita outra “bicharada” que depois tentava esconder no seu quarto.

«Entretanto, comecei a fazer herbários. Cheguei a reunir exemplares vegetais, tanto autóctones como exóticos, de Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Brasil e, por volta dos doze anos, tinha já reunido uma colecção interessante, devidamente identificada, porque ia sempre consultando os guias de classificação botânica e, levando plantas para casa em vez de animais, terá sido uma forma que engendrei de andar sempre com a Natureza nos braços, subtraindo a quantidade de raspanetes», revela o biólogo à Agenda Cultural do Porto.

Pedro Suárez com um dragão-barbudo, Austrália, 2017
Pedro Suárez com um dragão-barbudo, Austrália, 2017

Na entrevista que nos concedeu, Pedro Suárez conta que a sua paixão pelos livros e pelas Ciências Naturais é-lhe indissociável do seu carácter e personalidade, «Por isso, aquilo que li e leio moldou — e continua a exercer a sua influência, talvez cada vez mais — a minha forma de interpretar o mundo e a intensidade emocional com que argumento as perspectivas que defendo, procurando, no entanto, fazê-lo sempre com a maior factualidade possível. Caso contrário, prefiro, dependendo do contexto em que estou inserido, não me pronunciar. Assim, vou ouvindo e aprendendo… ou, por vezes, não. Por vezes vou só ouvindo», explicou, acabando por demonstrar, com humor e elegância, que, para além de um homem da ciência, é também um estudioso — um jovem sábio (é raro!) — e um entusiasta da filosofia, particularmente pelas áreas do racionalismo, do método, da epistemologia, da hermenêutica e da ontologia.

Aos 14 anos, começou a ler Charles Darwin, Konrad Lorenz, Carl Sagan, Richard Dawkins, Galopim de Carvalho, Juan Luis Arsuaga e outros cientistas. Os romances e outros géneros de ficção eram, nessa altura, «absolutamente entediantes, papeluchos de aguinha adoçada, perdas de tempo encerradas em capas», confessa, rindo-se, e esclarece de imediato:
«Felizmente, a minha maturidade literária acabou por se ir desenvolvendo, o que me permitiu, mais tarde, concluir que só através da leitura atenta de bons romancistas e ensaístas — com um lápis numa mão e um dicionário de língua portuguesa noutra — se nutre o vocabulário materno, se aguça a capacidade interpretativa e se aprende a transmitir as ideias de forma não necessariamente concisa ou lacónica, mas precisa e rigorosa.»

Richard Dawkins e Pedro Suárez, Londres, 2024

Por coincidência irónica — ou talvez não —, os quatro livros que Pedro Suárez publicou até ao momento seguem uma linha ficcional. Mas, num futuro próximo, pretende produzir literatura de divulgação científica.

Escreveu o primeiro livro com 16 anos, Pedro Pedra da Rocha Calhau, revisto e comentado pelo Prof. Doutor Galopim de Carvalho — um conto infantil sobre ciências geológicas.
O segundo, que publicou aos 20 anos, A História de Martim Pescador e Sr. Gaspar, trata-se de um conto fabulístico juvenil sobre a compreensão de que «o conhecimento se transmite pela sã convivência entre várias gerações, raças e etnias», como escreveu Teresa Rebelo, professora de Português e Francês, no prefácio dessa edição.

O terceiro, escrito pelo autor em 2017, quando tinha 21 anos, mas publicado apenas no ano passado (2024) — o primeiro volume de As Pequenas Histórias de Pedro Suárez —, é na verdade o início de um projecto ambicioso e inovador que pretende reunir pelo menos cinco volumes, cada um com três ou mais fábulas. Segundo José Mário Santos, fundador e proprietário da livraria e oficina do livro Invicta-Livro, «detém o potencial de vir a tornar Pedro Suárez no primeiro fabulista português do seu género, em particular pela singularidade da sua escrita de alta qualidade literária, que reúne interesse científico e um profundo valor filosófico-cultural».

A pouco tempo de lançar o seu quarto livro — ou o segundo volume da colecção As Pequenas Histórias de Pedro Suárez —, cuja cerimónia terá lugar na Fundação António Cupertino de Miranda (Porto), no dia 22 de Novembro, às 16h00, perguntámos ao autor como descreveria o seu trabalho escrito. Após um breve silêncio, respondeu:
«Por mais tentador que seja endereçar a vossa questão — porque o é, sobretudo no sentido oportunístico da psicologia publicitária —, preferia, com o devido respeito, transladar esse exercício para quem me ler e, assim, poder sentir-me mais honesto e menos pretensioso (ri-se). Diria apenas que uma das minhas maiores responsabilidades é trabalhar todos os dias, por vezes adoptando métodos menos ortodoxos ou mais incomuns, sim, para tentar melhorar a minha escrita e enriquecer o meu ainda escasso conhecimento geral.»

No entanto, as impressões que podemos retirar após conhecermos directamente o próprio autor, e as análises produzidas sobre o seu trabalho por académicos, investigadores e promotores culturais, são mais elogiosas e entusiásticas.
Por exemplo, Margarida Negrais, filóloga românica e escritora, publicou na imprensa portuense que Pedro Suárez utiliza uma «linguagem cuidada, repleta de propriedade, numa simbiose interessantíssima entre um tom frequentemente erudito a nível vocabular e uma linguagem do quotidiano, por vezes mesmo do domínio do regional e do familiar», acrescentando que «o autor, além de empregar terminologia própria da sua formação académica, é profundo conhecedor das virtualidades e riqueza vocabular da nossa língua».

Vítor Teixeira, historiador, investigador e docente na UFP, defende que «As Pequenas Histórias de Pedro Suárez (…) são, pois, os pródromos, mesmo até o caminho, para nos encantarmos, sim, para pensarmos, bastante, para cair na tragédia da dança de hoje que se torna a desgraça amanhã… (…) Nesta tradição, a linguagem rebuscada, metafórica e especulativa reaproxima a ciência da fábula, criando narrativas com potencial moralizante, filosófico ou cultural», já que «na fronteira entre a fábula e o tratado, entre o delírio e o teorema, habita um território pouco explorado, onde a ciência pode ser fabulosa sem perder rigor, e a literatura pode ser exacta sem perder poesia».
Por isso, na sua resenha prefacial, o Prof. Doutor Vítor Teixeira demonstra que «nasce, reitero, um novo género: a fábula científica. É aqui que equacionamos estas Pequenas Histórias de Pedro Suárez (…)».

Maria da Conceição Viterbo, psicóloga, psicoterapeuta clínica e docente no ISEP, nota que «ao longo destas Pequenas Histórias, temos a oportunidade de observar a irreverência, as traquinices e a curiosidade dos mais jovens, a sua vontade de descobrir o que está para além do conhecido e, ao mesmo tempo, convivemos com temas sensíveis como o abandono dos mais velhos, a perda, a não aceitação e a rejeição. Tudo versado num mundo fantástico, de uma forma leve, com sentido de humor e, em simultâneo, com seriedade.»

Os temas gerais que Pedro Suárez disseca em muitas das suas fábulas parecem ser irreverentes, controversos e profundos, o que provoca a curiosidade dos leitores e coloca as suas obras — aparentemente bem disfarçadas de contos juvenis — entre a reflexão filosófica e o ensaio sociológico, ou então na nova estante que se sugere como “fábula científica”.

O projecto bibliográfico destas fábulas de Pedro Suárez demonstra, de facto, prometer — ou pelo menos sugerir — a inclusão de um novo conceito literário digno de chegar ao maior número possível de livrarias e leitores, não só pela novidade que representa no mercado livreiro e no mundo da escrita lusófona (e até estrangeira), mas também pelo consenso que reúne entre críticos e muitos leitores: estamos perante uma produção artística portuguesa de elevada qualidade literária e conceptual, o que deve ser apoiado e divulgado.

A colecção As Pequenas Histórias de Pedro Suárez é uma produção de O Orbitário. Poderá entrar em contacto através do e-mail: oorbitario@gmail.com

Pedro Suárez: O Primeiro “Fabulista Científico” Português?
Pedro Suárez: O Primeiro “Fabulista Científico” Português?

Pedro Suárez: O Primeiro “Fabulista Científico” Português?

Translate »