
O Balcão – Teatro Nacional São João
O Balcão – Teatro Nacional São João
de 17 a 21 de Novembro
“Gostaria que o mundo mudasse para eu ser contra ele.” Jean Genet viveu num estado de permanente revolta. Para ele, o teatro era um lugar “onde todas as liberdades são possíveis”. O Balcão, a sua obra mais ambígua e mais terrível, joga-se no interior de um bordel de luxo, espaço confinado, asséptico e hipervigiado, atravessado por ecos de uma revolução em curso. É com ela que Nuno Cardoso encerra a sua “trilogia da inauguração”, conjunto de três peças que dão corpo à ideia de um teatro de repertório exigente, intemporal, transfronteiriço. Arrancou com um dos textos matriciais da modernidade teatral (A Morte de Danton, de Georg Büchner) e prosseguiu com a revisitação de um cânone da dramaturgia clássica portuguesa (Castro, de António Ferreira). O Balcão densifica alguns dos temas em circulação, como o poder como claustrofobia, os ocasos das revoluções, as sedutoras vizinhanças entre o sexo e a morte. Comédia erótica, drama metafísico, farsa fúnebre? Barroco e indisciplinado, este Balcão, servido por uma tradução da poeta Regina Guimarães, é avesso a formatações. Ele arrisca-se a ser, como sempre em Jean Genet e como sempre em Nuno Cardoso, o palco da nossa imaginação.
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A Rapariga: (Muito doce.) A guerra vem aí, meu general. Será ao final do dia, num pomar de macieiras. O céu estará calmo e róseo. Uma súbita paz – o lamento das pombas –, uma paz como aquelas que antecedem os combates, inunda a terra. A temperatura é muito amena. Um fruto rolou na erva. Não é uma maçã, é uma pinha. As coisas sustêm a respiração. A guerra foi declarada. E está bom tempo. […] A morte mostrava-se finalmente ativa. Ágil, corria dum lado para o outro, escavando uma ferida, apagando um olho, arrancando um braço, cortando pela raiz um grito, um canto. A morte estava exausta. Exaurida, ela mesma morta de cansaço. Então fez-se leve e adormeceu sobre os teus ombros. E aí se quedou a dormitar.
Jean Genet – O Balcão
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O Balcão – Teatro Nacional São João