MANUEL FÚRIA | OS PERDEDORES – Mouco

Depois de um período em silêncio, voltámos a ouvir a voz de Manuel Fúria no final de 2022. O disco que saiu chama-se Os Perdedores, e traz o artista que conhecemos num formato em que não o conhecíamos. Conseguimos topar Rui Pregal da Cunha, mas é o James Murphy da DFA, a referência que se impõe. Contudo não é de LCD Soundsystem que se trata: isto é Manuel Fúria. Com Portugal, o desenraizamento, o absoluto e a morte. Com o esquecimento e a cultura popular. Em palco o contraste entre o hedonismo da electrónica de dança, o recurso ao pastiche e a evocação dos temas que pairam no universo do autor – a cidade e o campo, os fantasmas da Cristandade, clubes de vídeo desactivados ou os amigos que já cá não estão. O espectáculo que rendeu notórias críticas promete, além de tudo o que já foi bom e que queremos ouvir de novo, material inédito. Agora, porém, num golpe mais artístico do que contingente, o palco tem menos pessoas, Fúria opta por uma abordagem conceptual que tem como princípio a vulnerabilidade do sujeito perante o espaço vazio, permitindo assim que este seja ocupado pela imponência das canções e a performance individual.
Impõe-se de novo o paradoxo fundamental que Manuel Fúria carrega nos Perdedores, como na vida: a possibilidade da vitória sobre nós mesmos está estruturada numa dieta de despojamento, deixar cair, no gesto penitencial e purificador do jejum.
Para assistir ao vivo no próximo dia 20 de abril no Mouco.

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MANUEL FÚRIA | OS PERDEDORES – Mouco