MANUEL ANTÓNIO PINA E O CINEMA
MANUEL ANTÓNIO PINA E O CINEMA: Se a Memória existe (1999) + As Casas não Morrem (2014)
Conversa com Inês Fonseca Santos e João Botelho
Moderação: António M. Costa
Se a Memória Existe
João Botelho
Portugal (1999), 25min.
O 25 de Abril, 25 anos depois, visto por alguns dos seus principais protagonistas. Conta com a participação de Vasco Gonçalves, Otelo Saraiva de Carvalho, Matos Gomes e Sanches Osório. A história desenrola-se em volta de uma menina, a quem estes vão emprestar a memória de Abril.
As Casas Não Morrem
Inês Fonseca Santos e Pedro Macedo
Portugal (2014), 18min.
Há uma história muito bonita que o Manuel António Pina gostava de contar, ele que preferia regressar a partir; ele que repetia histórias como quem regressa a casa (…)
Disse-me, então, o Pina: “(…) o regresso a casa concreto, de uma viagem concreta, de um tempo concreto e de circunstâncias concretas, acaba por ter as formas que, em diferentes textos – penso eu, que também reflito sobre isso –, assumem esses sentimentos, o que é explicável talvez em termos ensaísticos ou lógicos ou psicológicos… Sei lá… Ou psicanalíticos ou o diabo que os carregue… São formas, só formas para o regresso concreto: chegar de avião a casa, começar a circular de avião aqui pelo Porto, aproximarmo-nos do aeroporto… Ainda por cima, os aviões passam aqui por cima da minha casa, desta casa, para aterrarem no aeroporto em Pedras Rubras. Vemos a casa lá em baixo, depois chegamos, entramos em casa e vemos os móveis, os animais reconhecem-nos, até os próprios móveis nos reconhecem… São formas de dizer a mesma coisa, formas que assume o regresso, em cada poema concreto ou em cada texto concreto, mesmo nas crónicas. No fundo, o que se quer dizer é: «Não te afastes de mais de ti». Só até usares metade das tuas forças para depois teres metade para regressar. E nunca te afastes assim tanto que deixes de ver a cor do teu telhado. Há um poema assim…”
Até onde me é dado saber isso, estou seguro de que o que escrevo há-de certamente ter (…) influências do cinema. Não só porque vejo muito cinema mas porque sou feito, mesmo se contrafeito, também de algum do cinema que vi (e se calhar até de todo o cinema que vi…) e porque julgo que escrevo justamente com essa matéria, a matéria de que sou feito. […] Algumas das mais fundas experiências minhas (algumas das assim chamadas minhas “circunstâncias”) aconteceram em salas de cinema.
Manuel António Pina
Apesar de apenas ter escrito dois poemas “inspirados” em filmes, parafraseando Pessoa, a poesia de Pina “pensa e sente por imagens”. O olhar e os reflexos, a luz e a sombra, a memória, o movimento, a montagem criam uma espécie de “consanguinidade e familiaridade” da sua poesia com o cinema. E depois há as crónicas, magníficas, onde Pina muitas vezes falava dos filmes de que, citando Borges, “era feito”.