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MANUEL ANTÓNIO PINA E O CINEMA: A sombra e o caçador (1955)
MANUEL ANTÓNIO PINA E O CINEMA: A sombra e o caçador (1955)
Apresentação por António M. Costa
A Sombra do Caçador
Charles Laughton
EUA (1955), 1h33min
“ (…) o ameaçador perfil de Robert Mitchum a cavalo, recortado contra o céu; o rio turbando-se de súbito ante a presença próxima do Mal; Lillian Gish protegendo as crianças com a grande espingarda e a sua pequenina voz cantando na noite contra o medo…” [Manuel António Pina]
Até onde me é dado saber isso, estou seguro de que o que escrevo há-de certamente ter (…) influências do cinema. Não só porque vejo muito cinema mas porque sou feito, mesmo se contrafeito, também de algum do cinema que vi (e se calhar até de todo o cinema que vi…) e porque julgo que escrevo justamente com essa matéria, a matéria de que sou feito. […] Algumas das mais fundas experiências minhas (algumas das assim chamadas minhas “circunstâncias”) aconteceram em salas de cinema.
Manuel António Pina
Apesar de apenas ter escrito dois poemas “inspirados” em filmes, parafraseando Pessoa, a poesia de Pina “pensa e sente por imagens”. O olhar e os reflexos, a luz e a sombra, a memória, o movimento, a montagem criam uma espécie de “consanguinidade e familiaridade” da sua poesia com o cinema. E depois há as crónicas, magníficas, onde Pina muitas vezes falava dos filmes de que, citando Borges, “era feito”.