
Exposição “Fluxo Contínuo” de Julee
De 30 de agosto a 20 de setembro de 2025, a Árvore – Cooperativa de Atividades Artísticas apresenta, no âmbito do Programa Jovens Criadores, a exposição Fluxo Contínuo, a primeira mostra individual da artista Julee (Juliana Lee Pinto, Curitiba, 1994).
Partindo de vivências pessoais e de memórias transmitidas entre gerações de mulheres da sua família, a artista propõe uma reflexão sobre a permanência do invisível nas coisas: forças que atravessam casas, corpos e objetos, revelando-se de forma subtil, mas persistente.
A exposição reúne esculturas, instalações e composições realizadas com galhos, raízes, tecidos e objetos, explorando tensões entre rigidez e movimento, familiaridade e estranheza.
Entre as obras apresentadas, destaca-se Senhora das Águas, inspirada na memória da avó da artista, que corava as roupas ao sol. Aqui, o espaço doméstico é transfigurado numa cascata contida, onde cuidado e dureza coexistem, evocando a presença das divindades aquáticas como tensão sensível, mais do que representação.
Embora a água nunca se apresente fisicamente, torna-se o elemento estrutural de toda a exposição: símbolo de trânsito, reorganização interior e transformação. A sua presença percorre as obras como um fluxo subterrâneo — ora evidente, ora silencioso —, unificando-as.
Fluxo Contínuo não segue uma narrativa linear, mas condensa fragmentos de memória e espiritualidade, transformando materiais naturais e domésticos em entidades que habitam o espaço. O trabalho de Julee articula resistência, ancestralidade e beleza no banal, deslocando o doméstico e abrindo fissuras no previsível, para afirmar a transformação como presença concreta e contínua.
Biografia
Julee (Juliana Lee Pinto, Curitiba, 1994) é artista visual, residente em Lisboa. Licenciada em Arte Multimédia pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, completou formações em cerâmica, pintura e fotografia (Casa Museu Alfredo Andersen e Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual). Participa regularmente em residências artísticas e dinamiza oficinas com comunidades desde 2021.
A sua prática explora processos de transfiguração da matéria em diálogo com temas como permanência, desaparecimento e contenção. Através da escultura, instalação e experimentação fotográfica, trabalha com materiais naturais, domésticos e encontrados, que transportam memórias e potencial simbólico.
O seu trabalho dá visibilidade ao que historicamente foi relegado ao segundo plano — o banal, o doméstico, o em decomposição —, afirmando-o como núcleo de presença e resistência. Nas suas composições, materiais e formas revelam camadas do invisível e constroem uma espiritualidade que habita o espaço entre o íntimo e o coletivo.