
Espectros | João Casimiro de Almeida, piano; Camila Mandillo, soprano
A soprano Camila Mandillo e o pianista João Casimiro de Almeida apresentam na Casa Comum o programa Espectros, conduzindo-nos por diferentes paisagens emocionais e estéticas, onde o timbre, a palavra e a memória se entrelaçam.
A abertura faz-se com A Torre da Barbela, de Solange Azevedo, obra breve e evocativa inspirada no romance homónimo de Ruben A. Através de uma escrita vocal lírica e de harmonias que sugerem ecos medievais, a compositora recria a atmosfera misteriosa da narrativa, em que o tempo e o sobrenatural se confundem.
Seguem-se as Siete canciones populares españolas de Manuel de Falla, um dos ciclos vocais mais emblemáticos do século XX. Baseadas em melodias tradicionais de várias regiões de Espanha, estas sete canções revelam a subtileza com que Falla soube aliar o folclore à arte erudita, explorando o contraste entre o virtuosismo rítmico e a intensidade expressiva da voz.
De Claude Debussy, ouviremos três Préludes do Primeiro Livro — La fille aux cheveux de lin, Ce qu’a vu le vent d’Ouest e La cathédrale engloutie. Cada um destes quadros sonoros transporta-nos para o universo impressionista do compositor, onde a cor e a sugestão prevalecem sobre a descrição literal. Debussy pinta em som aquilo que é fugaz e inatingível, num jogo constante entre transparência e densidade.
Em Hommages, Bernardo Lima presta tributo a dois grandes mestres do século XX: György Kurtág e George Crumb. Através de uma linguagem concentrada e exploratória, o compositor português invoca a herança de ambos — a miniatura expressiva de Kurtág e o universo tímbrico e poético de Crumb —, reinterpretando-os numa voz pessoal e contemporânea.
Metamorfoses e Ressonâncias, de Hugo Vasco Reis, é uma obra para piano solo que parte da ideia de transformação contínua. O som nasce, evolui e dissolve-se, numa escuta quase meditativa em que a matéria sonora se expande e se reflete em múltiplas dimensões.
O recital encerra com Quatre Instants, de Kaija Saariaho, um ciclo de canções que explora as fronteiras entre desejo, ausência e transcendência. A escrita da compositora finlandesa é profundamente sensorial e envolvente, conjugando lirismo e intensidade dramática numa paleta sonora de rara delicadeza.
Ao longo deste programa, João Casimiro de Almeida e Camila Mandillo conduzem-nos através de uma sucessão de atmosferas contrastantes, onde cada obra ecoa na seguinte como um espectro — uma memória que permanece e se transforma. De onde o nome desta viagem sonora entre o real e o imaginário, entre o que se escuta e o que apenas se pressente.
Casa Comum, dia 25 de outubro de 2025, sábado, às 18h00. Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Duração aproximada do recital: 60 minutos.
A apresentação de Espectros é organizada pela EncorArte com o apoio da Fundação GDA
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João Casimiro Almeida, piano
João Casimiro Almeida é um dos mais conceituados pianistas portugueses da sua geração, com uma vasta e reconhecida experiência musical. Tem um repertório extenso e versátil, tocando frequentemente tanto a solo como em música de câmara, da música barroca à contemporânea.
João apresenta-se com frequência nas mais conceituadas salas de concerto do país, como a Casa da Música no Porto, o Centro Cultural de Belém e a Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, e também mantendo uma agenda internacional em países como Espanha, França, Áustria, Polónia, Noruega ou Coreia do Sul.
Recebeu mais de uma dezena de prémios nacionais e internacionais, incluindo o 1.º prémio no Concurso Internacional Cidade do Fundão, nos Prémios David Russell em Vigo e no Concurso Internacional Paços Premium. Foi também semifinalista no VIII Concurso Internacional Rosario Marciano, em Viena.
A sua agenda recente inclui concertos com o Ensemble Orchestral Contemporain de Lyon, Ensemble Darcos, recitais a solo com Sonatas de Beethoven no Porto, em Aveiro e em Lisboa, bem como música de câmara contemporânea com o Sond’Ar-te Electric Ensemble, o Remix Ensemble, e o Ensemble Ars ad Hoc.
Durante a sua carreira e estudos teve oportunidade de trabalhar com vários músicos que contribuíram para o seu enriquecimento musical e pianístico, entre os quais os pianistas Michel Dalberto, Madalena Soveral, Maria Belooussova e Guigla Katsarava, bem como colaborar com os maestros Bruno Mantovani, Pedro Neves e Peter Rundel. Trabalhou também com importantes compositores da esfera musical atual, como Beat Furrer, Clara Iannotta, Frédéric Durieux, Inés Badalo, Joanna Bailie, Justina Repeckaite e Simon-Steen Andersen, entre outros.
A sua discografia inclui Alepo e Outros Silêncios, da Artway Records, com música de câmara de Luís Tinoco, bem como Le Grand Tango, da Percos Music, álbum do GuiCollective dedicado a Astor Piazzolla.
Em 2024, editou o seu primeiro CD a solo, intitulado Espectros, com música portuguesa do séc. XXI, gravado pela Neper Music.
João concluiu a licenciatura em Piano na ESMAE, no Porto, e o mestrado em Performance de Piano no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris. Foi bolseiro da Fondation Meyer, da Fondation Les Amis d’Alain Marinaro e recebeu uma bolsa de mérito da ESMAE-IPP. Atualmente, João vive no Porto e leciona na Escola Profissional de Música de Espinho.
Camila Mandillo, soprano
A soprano Camila Mandillo é atualmente artista em residência na Queen Elisabeth Music Chapel (Bélgica), sob a orientação de Sophie Koch e Stéphane Degout.
Formada com distinção pela Hochschule für Musik Hanns Eisler Berlin, completou a licenciatura e o mestrado sob a orientação de Martin Bruns e Uta Priew, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Recebeu também bolsas de mérito como Deutshland Stipendium; Yehudi Menuhin Live Music Now Berlin e.V, e DMR Stipendienprogramms im Rahmen von Neustart Kultur.
Participou em masterclasses com artistas como Sabine Devieilhe e José van Dam, entre outros nomes de referência.
Apresenta-se regularmente em recitais, produções de ópera e música contemporânea – área onde tem vindo a receber crescente reconhecimento -destacando-se a sua participação como solista nos workshops ENOA “Composing for Voices and Orchestra” com os compositores Kaija Saariaho (2023) e Luca Francesconi (2024) com a Orquestra Gulbenkian; a estreia na produção Neuen Szenen IV na Deutsche Oper Berlin; a abertura das edições de 2022 e 2024 do Festival Música Viva com o Sond’Ar-te Electric Ensemble e com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, respetivamente; e atuações no Art’s Birthday – Euroradio Ars Acustica e no Antwerp Spring Festival com a Orchestre National de Lille.
Colaborou com ensembles como Il Gardellino Orchestra, Orchestre de l’Opéra Royal de Wallonie-Liège, IEMA Ensemble, Orquestra Gulbenkian, Orquestra Metropolitana de Lisboa e Orquestra Barroca da Casa da música, e desde 2020 participa ativamente em projetos com o Sond’Ar-te Electric Ensemble.
Figura como uma das intérpretes principais nos World New Music Days 2025 em Lisboa, com destaque para o concerto de abertura no Centro Cultural de Belém.
Após nomeação conjunta da Fundação Calouste Gulbenkian, Casa da Música e BOZAR, foi selecionada pela rede ECHO como uma das seis Rising Stars para a temporada 2026–2027, com uma digressão internacional por prestigiadas salas europeias.