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Diana Botelho Vieira – Terra da Saudade
Diana Botelho Vieira — Terra da Saudade
Recital de Piano
Diana Botelho Vieira apresenta-se na Casa Comum com um programa que foi estreado no passado novembro em Amesterdão, inserido no Q.Art Festival, e que, antes de aqui chegar, passará ainda por Évora.
Sobre o tópico que lhe dá estrutura – Terra da Saudade –, diz Diana Botelho Vieira: “Saudade” é um sentimento muito português. Mas a saudade não se resume à nostalgia do país perdido, ou à recordação dos tempos da juventude. Na arte, pode ser também a referência a estilos antigos. Este recital percorre as várias facetas da saudade, desde a melancolia existencial do fado até às memórias de infância, passando pela visita aos estilos e géneros musicais do passado.
O programa que a pianista apresenta oferece uma panorâmica da diversidade da música portuguesa para piano do séc. XIX ao séc. XX, iniciando-se com o conhecido Fado Burnay, escrito por Eduardo Burnay provavelmente no início de novecentos, e cuja expressão melancólica dá o mote inicial a este recital temático. Duas Barcarolas de Vianna da Mota seguem-se, sendo a N.º 1 mais dramática, mas a N.º 2 introduzindo, com elegância, alguma alegria no discurso musical. Continua com as Três Peças para Piano de Freitas Branco, compostas em 1916, de que o “Prelúdio” é dedicado a António Arroio, engenheiro e crítico literário e artístico. Poderemos estar, como diz o crítico musical Nuno Barreiros, perante um “impressionismo sintético”, despojado, mas é difícil não ouvir ecos do romantismo nesta pequena peça.
A Dolorosa (Musique Intime) n.º 3, de Óscar da Silva, tem por base o muito glosado tema “La Folia”, de antiga origem ibérica, a que cada compositor que o reinterpreta empresta um caráter particular, sendo neste caso entre o trágico e o triste. Segue-se Luiz Costa, um compositor cujas obras ecoam diversos estilos dos séculos XIX e XX (a sua veia impressionista, note-se, é particularmente bela) e que aparece representado por uma obra ainda de juventude (Embalando), antes de ouvirmos uma seleção das miniaturas de Francisco Lacerda contidas em Trente-six histoires pour amuser les enfants d’un artiste. Uma excelente introdução a um compositor que, tal como Luiz Costa, devia estar mais presente no repertório pianístico nacional. Depois de abordar algumas composições da breve carreira de António Fragoso, Diana Botelho Vieira encerra com dois compositores mais próximos de nós, Constança Capdeville e Filipe Pires, embora selecione, mais uma vez, obras de juventude, em que o espírito vanguardista destes compositores poderá ainda não estar plenamente afirmado. Mas esta escolha faz todo sentido se olharmos para o discurso musical que Diana Botelho Vieira pretende afirmar com esta sua Terra da Saudade.
Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Programa
Eduardo Burnay (1877-1926), Fado Burnay
José Vianna da Motta (1868-1948), Barcarola n.º 1, Opus 1; Barcarola n.º 2, Opus 17
Luiz de Freitas Branco (1890-1955), “Prelúdio” (das 3 Peças)
Óscar da Silva (1870-1958), Dolorosas, n.º 3
Luiz Costa (1879-1960), Embalando
Francisco de Lacerda (1869-1934), 36 Histoires pour amuser les enfants d’un artiste (selecção)
António Fragoso (1897-1918), “Prelúdio” (da Pequena Suite), Mazurka n.º 1; Três Peças do Século XVIII – “Minueto”, “Aria”, “Gavotte”
Constança Capdeville (1937-1992), Siciliana; Caixinha de Música, Visions d’Enfant (selecção): “Chansonette Incertaine”, “Quand je serai soldat”, “Maman, j’ai vu dans la lune…”, “Humble danse des petits canards”
Filipe Pires (1934-2015), “Toccata” (da Sonata para Piano)
Data: 14 de junho
Local: Casa Comum
Hora: 21:30
Entrada: Gratuita
Endereço: Praça de Gomes Teixeira
Diana Botelho Vieira – Terra da Saudade