
BRUMA – Teatro do Bolhão
Ouvimos, como perdidas ao Iongo dos tempos, canções, rezas, esconjuros, formas de uma voz a procurar-se, na tentativa de encontrar um Iugar para a palavra e pela palavra, uma linha de fuga que procura a liberta ao. Ensaiaram-se ritmos, melodias, melopeias, combinações de palavras que
dessem luz a sentidos outros, subterrâneos, como correntes. E rumo a esta procura de sentido
que este projeto se desenvolve: pesquisaremos na cultura portuguesa estes ninhos de palavras subversivas, e tentaremos ler neles o sentido que libertam, que desenlaçam e religam pelo uso invulgar da estrutura da língua. As palavras dos rituais desorganizam o uso comum da gramática, surpreendem a nossa expectativa sabre o significado: fazem a língua falhar. Recolheremos estas palavras fora da normatividade, as das mulheres, com corpos e discursos que reclamam Iugar fora do mundo doméstico. Encontramos este caminho nas bruxas, nas curandeiras, nas mulheres que cantam segredos e provocam uma disrupção da ordem com poderes ocultos e indomáveis, e nas mulheres que não casam, que não tem filhos- e colocam assim em causa a organização da comunidade. Neste projeto, procuraremos recolher os textos destas vozes povoadas de fantasmas, como se compreendessem uma outra ordem do mundo que corre, invisível, ao lado da nossa vida quotidiana. 0 fulcro que conduz a recolha são as mulheres: marginalizadas ou silenciadas, em comunidades secretas ou s6s. Procuraremos nos seus textos a força que procura romper com uma opressão.
BRUMA – Teatro do Bolhão