
A Arte Percussiva no Universo Lusófono
Neste programa, o Drumming Grupo de Percussão convida-nos a embarcar numa travessia sonora que percorre as múltiplas paisagens da percussão no vasto e diverso mundo lusófono — um território onde a língua é ponte, mas o ritmo é raiz.
Abriremos o espetáculo com a peça Spiralling, a mais recente criação do compositor laureado com o Prémio Pessoa 2024, escrita especialmente para o Drumming-GP: uma obra que, em espirais ascendentes, nos propõe um mergulho interior, entre pulsos arpejados e silêncios, onde o som do vibrafone se reinventa a cada instante e a vibração se torna temática expressiva.
Segue-se a estreia absoluta de uma peça para cimbalom solo, da autoria do compositor portuense Daniel Moreira — uma contribuição para o património em construção da percussão contemporânea.
Do Brasil, chega-nos a memória viva de Marlos Nobre, recentemente falecido. Poderemos ouvir M. Nobre — que foi aluno e continuador da grande figura da música clássica brasileira, Heitor Villa-Lobos — através da obra encomendada pelo Drumming-GP para o projeto Desconstruindo a Bossa. Nesta peça, a tradição da Bossa Nova não é apenas evocada, mas subtilmente desconstruída, ressignificada, transfigurada, como quem sussurra o futuro nos interstícios da memória.
Na secção final do programa, damos voz à cultura artística do povo Chope, uma das comunidades mais criativas de Moçambique, cuja tradição musical nas orquestras de timbilas resiste, com beleza e fragilidade, ao embate do tempo. Neste contexto, propomos dois momentos distintos que dialogam entre si:
Primeiro, a apresentação de uma obra de Jean-Luc Fafchamps, escrita para ensemble ou orquestra de timbilas — num gesto audacioso que atravessa fronteiras estéticas e culturais. Esta formação, praticamente ausente do universo da música erudita ocidental, revela aqui um potencial tímbrico de extraordinária riqueza: uma floresta sonora onde cada timbila evoca uma árvore africana em ressonância.
Por fim, seremos conduzidos por Machume Zango, solista e guardião desta tradição, que liderará a Orquestra de Timbilas do Drumming-GP. A timbila, instrumento emblemático da cultura chope, ergue-se como voz ancestral — celebração viva das músicas de tradição oral e das suas infinitas possibilidades de renascimento.